quarta-feira, 29 de junho de 2011

Eu não me pegaria



(...)
Chora sozinha olhando para o espelho. Chora sozinha olhando para o passado, pensando em como era linda e gostosa e de bem com a vida. Chora sozinha lembrando que não foi jantar naquele dia com aquelas amigas que você não vê há algum tempo porque depois que fosse embora certamente elas iriam comentar pelas suas costas nossa-como-a-fulaninha-embagulhou. E você, definitivamente, não quer que comentem o quanto você está ridiculamente feia. Já basta seu espelho que aponta o dedo para você e diz academia-academia-academia. Já basta a geladeira que liga aquela luz vermelha que diz carboidrato-não-carboidrato-não-carboidrato-não. Já basta ele, que diz que você está um pouco acima do peso quando na realidade você sabe que está muito acima do peso. Então, você chora mais e se sente pequena. Uma pequena grande, se é que isso é possível. E pensa consigo mesma: eu não me pegaria.
Aí começa o grande desespero. Qualquer folha de papel que sacode na rua parece mais interessante que você. Qualquer zinha parece perfeita. E você como sempre imperfeita. E você como sempre se coloca mais mil defeitos. E você como sempre pensa que não se pegaria. E a sua autoestima despenca do décimo quarto andar. E morre. E você quer se esconder dele, da vida, do mundo, de você mesma. Até que.
Você enfrenta ele, o espelho. O todo poderoso. O sincero. A coisa mais honesta que já inventaram na vida. E pensa: é só uma fase. É só uma gorda fase. Até as atrizes mais famosas já estiveram imensas. Até as mulheres mais lindas do mundo já estiveram acima do peso. E tenta se convencer que você não é o que você come. Não sou um pão de queijo, cara Gillian McKeith. Não sou uma tortinha de limão. Não sou uma lasanha de frango.
Então, você cola uma foto da Adriane Galisteu na geladeira. E uma foto de quando você era linda e gostosa e de bem com a vida. E se matricula na academia com o intuito de ir (porque a gente vive se matriculando com o intuito de apenas estar matriculada). E decide não comer carboidrato. E parar de se boicotar. E parar de se culpar. E parar de se detonar. E parar de se chamar de gorda. E parar de falar mal de você. E definitivamente decide perder todos os quilos que ganhou até chegar ao ponto de dizer agora-eu-me-pegaria-com-força.





Clarissa Correa

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